Liberdade e Transporte

O infarto de Goiânia

O infarto, segundo a Wikipédia, é a consequência máxima da falta de oxigenação de um órgão ou parte dele. Sabendo que a nossa sociedade atual foi moldada pelo automóvel, o que contribuiu para o aumento dos congestionamentos provocando a falta de oxigenação do nosso sistema viário e por consequência o infarto da nossa Goiânia.

A sociedade do automóvel provoca distorções no sistema de transporte. Sendo a maior distorção o fato de nunca haver capacidade viária suficiente para acomodar o tráfego, provocando assim, uma enorme e contínua pressão exercida sobre o sistema viário, principalmente em horários de pico, refletido na baixa das velocidades médias de circulação.

Em estudos resentes, feitos pelo Consórcio RMTC, sobre as velocidades na malha viária da Região Metropolitana de Goiânia, na qual foram comparados os valores da velocidade média nos anos de 2008 e 2016, pode-se observar que a velocidade no pico manhã no sentido mais carregado (bairro – centro) teve uma redução na velocidade média de 27%, saindo de 24 km/h para 17,6 km/h. No pico tarde a redução foi menor, de 12%, mas a velocidade média atinge um baixíssimo valor de 15,6 km/h no sentido centro-bairro. Para se ter um parâmetro a velocidade dos ônibus em São Paulo antes da implantação dos corredores era de 13,8 km/h no pico da tarde, atualmente a média é de 20,4 km/h .

O estudo também apontou que a piora da velocidade entre 2008 e 2016 se espraiou para outras faixas horárias do pico, ou seja, o período de trânsito intenso e congestionado está durando mais.

De toda a maneira, seja na média, seja no menor valor, as velocidades são muito ruins para um transporte coletivo de qualidade. Vale dizer que, além do tempo no ônibus, há o tempo de caminhada e de espera. Quando acrescidos esses tempos, a velocidade da viagem completa por ônibus, cai pela metade, assim, a “velocidade da viagem” dos passageiros de ônibus é da ordem de 8 km/h no pico manhã e de 7 km/h no pico da tarde

Já em relação a variação da frota de veículos automotivos nos municípios conurbados com Goiânia é extremamente crescente, no caso dos automóveis, em 12 anos, a frota mais que dobrou, nas motocicletas, triplicou. Considerando o período de 2009 a 2012, a variação da frota de automóveis foi de 26% e de motocicletas de 29%. Curiosamente, a velocidade dos ônibus, como demonstrado anteriormente, caiu 27%.

Essa queda na velocidade média dos ônibus provocou piora na qualidade do serviço, seja pelo fato da viagem demorar mais tempo, seja por diminuição no número de viagens realizadas por ônibus (antes um ônibus em média realizava 8 viagens, hoje realiza somente 6), seja por alteração na pontualidade dos ônibus.

A solução para essa questão é simples, como no infarto, devemos desobstruir nosso viário dando condições para o transporte público trafegar com velocidade, seja por meio dos corredores preferências (Av. Universitária), ou seja, por faixa exclusiva (Eixo Anhanguera).

Mas como podemos defender os corredores de ônibus em relação a separação do espaço frente ao pensamento libertário. Qual a liberdade que é mais importante: a do usuário do ônibus? A do motorista do carro? A do comerciante que pode ficar sem estacionamento? Isso seria uma forte intervenção do estado?

Na minha percepção, e tentando não ser corporativista, acredito que por se tratar de uma infraestrutura compartilhada o próprio mercado por si só iria regulamentar o seu uso para otimizar a utilização. Entretanto uma dúvida que é levantada por quem é contra e o fato que o carro fica preso no engarrafamento e o corredor de ônibus está vazio. Mas isto é uma questão de melhoria operacional do que inviabilizar o uso da infraestrutura