Antes de iniciar a avaliação deste cenário em relação as eleições presidenciais de outubro/2018 fazemos relembrar os fatores que provocaram a paralização dos caminhoneiros que ocorreu entre o final de maio e início de junho/2018:
O governo federal por meio do BNDES, com a justificativa de estimular a economia e ajudar os caminhoneiros e a indústria de veículos pesados, decidiu conceder empréstimos baratos para que indivíduos autônomos e também transportadoras comprassem caminhões a juros baixos e a várias prestações. Isto resultou no aumento da quantidade de caminhões em circulação, bem como o número de caminhoneiros autônomos, o que gerou maior concorrência e com isso os preços dos fretes caíram, diminuindo assim o poder de compra dos caminhoneiros.
Por outro lado a concorrência impediu que os aumentos nos custos do frete ao longo do tempo fossem repassados para o cliente, que continuou caindo. Então os caminheiros estavam endividados, com aumento nos custos, queda na receita e perdendo cada vez mais qualidade e portanto mercado. A subida do preço do diesel terminou por empurrar de vez o setor à bancarrota e com a total inviabilidade operacional, os caminhoneiros foram protestar.
Então podemos perceber que a politica de preços da Petrobras foi somente a ponta do iceberg e que a principal causa do colapso foi a implantação de uma medida intervencionista com o intuito de ajudar um setor acabou deixando-o em ruínas. E qual foi a solução encontrada…. mais intervenção!!!
Portanto esta análise mais efetiva da greve dos caminhoneiros nos leva a entender que não há, na prática, nenhuma diferença entre esta e as manifestações que ocorreram em junho de 2013, quando, tomadas pela sede de “justiça social!?” e clamando pela redução nos preços dos transportes coletivos, milhares de pessoas foram as ruas não para lutar contra a ineficiente atuação estatal no transporte público mas sim para pedir mais intervenção e a absurda pedida do “tarifa zero”.
E estes movimentos esquecem que os preços devem ser resultado da oferta e demanda (aula básica de economia que nenhum intervencionista jamais entenderá) e, quando vinculada a monopólios, a oferta tende a ser inflexível e que reduzir preços na canetada tende a gerar maiores e mais graves problemas para a economia como um todo e no fim.
Mas este movimento trouxe um novidade, a esquerda perdeu a vez e o espaço entre o povo trabalhador. Esses caminhoneiros, por mais que protestem pedindo a solução errada, perceberam mesmo que de forma míope que o problema no Estado encontra-se em seu crescimento abusivo; mesmo que solução seja por maior intervenção, os grevistas já começaram a notar o problema dos impostos abusivos e como ela alimenta a corrupção e – e mais do que isso, expulsaram a esquerda das manifestações. Portanto, no campo cultural a situação está se alterando. Não é uma batalha entre patrão e empregado, mas sim entre o cidadão contra o estado. E nesta mudança esta a grande alteração para as próximas eleições.
E como qual foi o posicionamento de cada pré-candidato?
O pré-candidato pelo PDT Ciro Gomes afirmou em seu Twitter que “alta dos combustíveis é uma aberração” e criticou a Petrobras, em tentar entender o problema e sinalizando que uma política mais intervencionista seria a solução.
Já a pré-candidata pelo PC do B Manuela D’Ávila fez uma série de críticas e cometendo o erro de praxe dos intervencionista “O liberalismo entreguista está quebrando o país em tempo recorde”, disse. Mas como um monopólio estatal pode ser comparado ao liberalismo defensor do livre mercado…. só mais um discurso repetido da esquerda e seus “moinhos”.
O economista Paulo Rabello de Castro, pré-candidato pelo PSC, afirmou que para solucionar a crise é preciso “criar 1 fundo de estabilização gerenciado fora do ambiente de Governo”. O ex-presidente do BNDES defendeu ainda uma reforma tributária. Mas continuou acreditando na intervenção como solução.
Já o pré-candidato pelo Novo, João Amoêdo, defendeu a privatização da Petrobras, o corte de gastos do governo, a redução de impostos em todos os setores e o investimento em novos meios de transporte e fontes de energia. Algo que faz tremer boa parte deste país.
Pré-candidato pelo Podemos, o senador Alvaro Dias (PR) manifestou apoio às paralisações pelo país. Segundo ele, os protestos não podem ser desprezados.
A pré-candidata pela Rede, Marina Silva, defendeu que a Petrobras faça mais intervenções para segurar o preço dos combustíveis produzidos no Brasil e que ela tenha uma margem de manobra para segurar os valores.
O pré-candidato pelo PSL, deputado Jair Bolsonaro tentou se posicionar como maestro, no primeiro momento apoio a paralização mas depois se prontificou como uma voz conciliadora ao pedir o fim do movimento.
E como resultado, na primeira pesquisa nacional desde a greve sobre as intenções de voto para o primeiro turno da eleição presidencial, Bolsonaro saiu à frente contra três relações diferentes de potenciais concorrentes, com 21-25% dos votos. Três quartos de seus adeptos dizem que não vão mudar seu voto antes do dia das eleições.
O rival mais próximo de Bolsonaro, Ciro Gomes, de centro-esquerda que oportunamente se posiciona com um populista, recebeu o apoio de 11-12% dos eleitores. Geraldo Alckmin foi apoiado por apenas 6 a 7% dos eleitores.
Para o cientista político Rafael Cortez, a situação atual, a paralização demonstrou a crise de autoridade do governo Temer: “Essa crise deve afetar o tipo de discussão que o País vai enfrentar em ano eleitoral. Dificulta a construção de um ambiente reformista para que o País possa tomar uma trajetória positiva de desenvolvimento econômico. Logicamente, que afeta o contexto da eleição presidencial”, afirmou. O que fortalece o posicionamento autoritário do deputado Jair Bolsonaro.
O especialista em políticas públicas Emerson Masullo lembra que questões básicas da economia, como o desemprego, não foram resolvidas. Os especialistas temem uma grande abstenção nas eleições de outubro, outro ponto positivo para Bolsonaro.
Entretanto, parte da esquerda comemorou o fato dos debates sobre a privatização da Petrobras terem chegado a todas as classes sociais, mas, assustou-se com as manifestações pró-intervenção militar.
As lideranças que apoiaram o governo de Michel Temer estão engessadas pela perda visível de autoridade do presidente e com o derretimento do seu capital político – se é que o mesmo existia.
O cientista político Paulo Kramer percebeu, pelo menos via redes sociais, uma vantagem significativa para Bolsonaro na mobilização dos caminhoneiros. Para ele, a ausência de uma candidatura mais competitiva torna os problemas expostos pela insatisfação popular ainda mais complicados.
“Surfando na onda dos protestos, uma candidatura como a do Bolsonaro pode se sentir tentada a voltar aos seus mais primitivos instintos estatizantes e nacionalistas. O Brasil precisa do contrário disso”, diz o professor da Universidade de Brasília (UnB), para quem o protagonismo nos movimentos de insatisfação política aumenta a responsabilidade do deputado federal pelo Rio de Janeiro neste momento.
Referências
Qual a relação entre a direita e a greve dos caminhoneiros? https://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/qual-a-relacao-entre-a-direita-e-a-greve-dos-caminhoneiros/
Como uma greve de caminhoneiros moldará as eleições no Brasil https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,como-uma-greve-de-caminhoneiros-moldara-as-eleicoes-no-brasil,70002342006
Greve dos caminhoneiros irá definir as eleições de 2018, diz The Economist http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/7465146/greve-dos-caminhoneiros-ira-definir-eleicoes-2018-diz-the-economist
Efeitos políticos da greve dos caminhoneiros podem se estender até a eleição https://jovempan.uol.com.br/programas/jornal-da-manha/efeitos-politicos-da-greve-dos-caminhoneiros-podem-se-estender-ate-a-eleicao.html
Quem ganha ou quem perde nas eleições após a greve dos caminhoneiros? http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/politica/2018/06/02/interna_politica,753990/quem-ganha-ou-quem-perde-nas-eleicoes-apos-a-greve-dos-caminhoneiros.shtml
Quanto o Governo Temer perdeu (e seus adversários ganharam) com a greve https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/28/politica/1527523479_591698.html
Pré-candidatos ao Planalto comentam greve de caminhoneiros e Petrobras https://www.poder360.com.br/eleicoes/presidenciaveis-se-manifestam-sobre-greve-de-caminhoneiros-e-petrobras/
… E os caminhoneiros pensaram que aquilo seria bom para eles https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2040
A falácia do “preço justo” está de volta – e com direito a prisões de comerciantes https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2899
Greve dos caminhoneiros: o brasileiro não aprendeu nada com seu passado https://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/greve-dos-caminhoneiros-o-brasileiro-nao-aprendeu-nada-com-seu-passado/