Liberdade e Estado

Liberdade antes que tardia

Após uma boa conversa no Facebook sobre “direita liberal” na qual defendi a tese que não existe uma direita liberal (pois tenho como crença que para ser liberal de fato não deveria existir Estado e que no próprio termo “direita” já está incluso a necessidade de existir um ente estatal) percebi que existem de fato poucos liberais no Brasil, e destes a maioria estão firmados na Liberalismo Clássico. E com isso fiquei bastante reflexivo em relação as ideias da liberdade em solo tupiniquim.

Coincidentemente na página do Mises Institute estava com um post “For New Libertarian”, escrito pelo próprio presidente do instituto o Senhor Jeff Deist e que se mostrou bastante aderente com a minha recente preocupação em relação a falta de relevância do discurso pró liberdade no cenário político.

O texto utiliza sabiamente o pensamento de Murray Rothbard :

“O libertarianismo é uma filosofia que busca uma política.”

E se indaga se atualmente o correto não seria afirmar que

“o libertarianismo é uma filosofia que busca melhores libertários”.

Esta crítica é em decorrência da supervalorização da força advinda da “revolução digital” e da globalização. Mas se esquecem do fato que estas mesmas forças podem também serem apropriadas pelo Estado. Portanto devemos desconfiar da noção determinista de que existe um enredo inevitável para a história humana.

E que, enquanto a humanidade continuar a existir, sua teimosia de formar governos continuará sendo um árduo problema. E que nenhuma revolução tecnológica como: o surgimento da imprensa, a revolução industrial, a eletricidade, alteraram esta situação e que, portanto, não podemos assumir que a nossa libertação em relação ao Estado venha através da revolução digital.

A teoria é linda, simples e lógica. E, é claro, que pelo menos um grau destes três elementos – liberdade individual, direitos de propriedade e um regramento que protege os dois anteriores – são necessários e que liberdade e o progresso da humanidade estão inextricavelmente ligados.

Então, temos a teoria Rothbardiana da liberdade. Mas que segundo o autor não é o suficiente. E Murray foi inflexível sobre isso. Ele foi o primeiro a enfatizar a importância das pessoas e do ativismo, não apenas ideias e educação. Mas que tipo de pessoas e que tipo de ativismo? Essa foi a questão no tempo de Murray, e ainda é a questão hoje. E o autor separou em três pontos:

1. A liberdade é natural e orgânica.

Se houver um ponto primordial, devemos nos lembrar que a liberdade é natural e orgânica e é inerente a ação humana, portanto não exige um “homem novo”. No entanto, os libertários falham ao retratar a liberdade como uma nova era, uma evolução.

Nesse sentido, eles podem parecer muito progressistas: a liberdade funcionará quando o ser humano finalmente derramar suas velhas e obstinadas ideias de família e tribo, tornar-se puramente racionais (livremente o oposto), rejeitar a mitologia da religião e da fé. E é claro que a humanidade não tem como se “esvaziar. Os indivíduos são frágeis e falíveis, hierárquicos e irracionais e semelhantes ao rebanho.

Então, podemos entender a liberdade como uma abordagem profundamente pragmática para a organização da sociedade, que resolva problemas e conflitos com as melhores soluções voluntárias e privadas disponíveis. Lembrando que vamos lutar pelo melhor, e não pelo perfeito, este deve ser o nosso lema

2.Abrace em vez de rejeitar as organizações da sociedade civil

O segundo ponto diz respeito à própria sociedade civil. Porque, enquanto os libertários adotam com entusiasmo os mercados, há décadas cometeu o erro desastroso de se posicionar contra à família, à religião, à tradição e à cultura, ou seja, à própria sociedade civil.

O que é bizarro se pensarmos sobre isso. A sociedade civil fornece os mecanismos que precisamos para organizar a sociedade sem o estado. E, de acordo com o ponto de Rothbard sobre a liberdade e a natureza humana, a sociedade civil organiza-se organicamente, sem força. Os seres humanos querem ser parte de algo maior que eles mesmos. Por que os libertários não conseguem entender isso?

O autor defende que a sociedade civil deve ser defendida pelos libertários em cada sentido. Caso contrário é ignorar o que os humanos realmente querem e realmente fazer: criar comunidades. Há uma palavra para pessoas que acreditam em nada: não governo, família, deus, sociedade, moralidade ou civilização. E essa palavra é niilista, não libertária

3. O universalismo político não é o objetivo

O último ponto é a teimosia dos libertários de defenderem algum tipo de arranjo político universal. Na medida em que existe um fim político para os libertários, é permitido aos indivíduos viverem o que acharem conveniente. O objetivo político é a autodeterminação, procurando reduzir o tamanho, alcance e poder do estado. Mas a ideia de princípios libertários universais se confundiu com a ideia de política libertária universal. Viver e deixar viver foi substituído pela noção de doutrina libertária universal, muitas vezes associada a um elemento cultural.

A doutrina universalista é algo assim: o voto democrático é o direito político sagrado num mundo pós-monárquico. Isso resulta em democracias sociais com redes de segurança robustas, capitalismo regulado, proteções legais para mulheres e minorias e normas amplamente aceitas em relação a questões sociais. As concepções ocidentais de direitos civis agora se aplicam em todos os lugares, e com a tecnologia podemos unir as antigas fronteiras dos estados-nação.

Esta narrativa faz libertários inócuo, pois o universalismo fornece os fundamentos filosóficos para o globalismo, mas o globalismo não é liberdade: em vez disso, ameaça criar novos níveis de centralidade e governo. E o universalismo não é lei natural; na verdade, muitas vezes é diretamente contrário com a natureza humana e sua diversidade.

Vale ressaltar que Mises rejeitou o universalismo e viu a autodeterminação como o maior fim político. Rothbard fez questão de que as nações orgânicas se separem das nações políticas em uma das últimas coisas que ele escreveu.

Em outras palavras, a autodeterminação é o objetivo político final. É o caminho para liberdade, por mais imperfeito que seja. A descentralização política, a secessão, a subsidiariedade e a anulação são todos mecanismos que nos aproximam do nosso objetivo político de autodeterminação.

Reflexão

Ao final do texto Jeff Deist fez uma pergunta interessante: Pelo o que você lutaria? E a reflexão foi bastante interessante pois deixou claro que dificilmente lutamos por ideias que nos parecem distantes e sim por aquilo que está próximo, isto é, aquilo que nos pertence.

E é neste ponto que o discurso pela liberdade perde força em relação ao discurso do “amparo social”, pois a liberdade como é apresentada, como algo frio e sem alma não tem a atração que o discurso estatizante dos socialistas que lutam pelo “bem das minorias”

Por isso, nós libertários e defensores da liberdade, devemos lutar para demostrar que o conceito de liberdade vai além do livre-mercado, e sim da manutenção dos direis individuas e da propriedade privada. E para isso devemos lembrar sempre do mandamento dito pelo nosso Senhor Jesus Cristo:

“amai ao próximo com a ti mesmo”

Então para poder amar meu semelhante eu devo também me amar e, portanto, para defender a minha comunidade/nação deve também defender os meus direitos individuais

Referência

For a New Libertarian: https://mises.org/blog/new-libertarian